quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Alphaville & Shopping

Fogo Doméstico

Para um grego ou romano o fogo doméstico* era um altar de culto aos mortos, mantido no interior de cada lar e deveria ser mantido sempre aceso com um pouco de carvão e cinza.

Na realidade, os mortos recebiam a denominação de deuses e os túmulos privados eram templos destas divindades.
Os cultos aos mortos eram individuais e eram através deles que os vivos podiam receber sua proteção, assim estes continuavam a participar das negociações humanas.

Exigiam-se formalidades rígidas no ritual sagrado, que aos poucos foram incorporados à noção de Lei, onde qualquer alteração nos ritos poderia provocar a ira dos deuses; nos cânticos não eram permitidas qualquer alteração de letra ou o deslocamento de qualquer palavra.

Cada família possuía o seu Deus privado que com o passar do tempo proporcionou prosperidade de determinadas famílias e simultaneamente o desejo destes deuses privados serem compartilhados e cultuados em cultos públicos.

As cidades no seu início foram o resultado da união destes chefes de famílias, onde só estes podiam ser cidadãos.
Na prática era através da prática do fogo privado que o indivíduo e sua família adquiriam o direito de serem cidadãos.

Hoje, tantos milênios depois, ainda continuamos a presenciar o flamejar deste fogo primitivo nas nossas instituições, deixando ainda a maioria dos cidadãos fora do sentimento de justiça e equidade que distingue uma sociedade moderna de uma primitiva. Ainda sofremos com práticas primitivas onde a aplicação das Leis é oriunda dos deuses privados para grupos que participam do mesmo ritual doméstico, deixando a maioria fora do direito de Justiça, principalmente no que se refere aos espaços comuns da cidade, meio ambiente e patrimônio coletivo.

Para estes grupos, apesar de travestidos de modernos, vale as regras dos tempos primitivos, do ritual de culto ao santuário representado pelas grandes INCOPORADORAS.

Primitivos travestidos de Modernos

A empresa ALPHAVILLE URBANISMO S/A, na audiência pública do empreendimento para a Granja Carolina, audiência no dia 05 de fevereiro de 2009 no processo de licenciamento do PROJETO VILA FLORESTAL – RESERVA COTIA – PROCESSO SMA 13.536/07, localizado entre as cidades de Itapevi e Cotia, apresentou diferenças significativas nas curvas de níveis, número de nascentes e posicionamento de cursos
d água.
Ao serem questionados sobre as diferenças do projeto apresentado com o mapa oficial da Emplasa, a empresa executora do Estudo de Impacto Ambiental (CPEA - Consultoria Paulista de Estudos Ambientais) através do Sr. Sérgio Pompéia, bem como o diretor de projetos da Alphaville Urbanismo S/A, Sr. Marcelo Willer; alegaram que os mapas da EMPLASA estavam desatualizados e não poderiam ser usados como referência.

Lembramos que a empresa, Alphaville Urbanismo, faz em seu projeto ampla utilização dos mapas oficiais da EMPLASA, os mesmos mapas que desqualifica, em outros momentos no mesmo projeto. Ficando claro que os utiliza para atender uma formalidade, e os desqualifica quando os mesmo são utilizados na defesa do interesse coletivo.

Cabe aqui ressaltar que:

1- Os MAPAS da EMPLASA são utilizados por TODOS os órgãos do ESTADO e TODOS os profissionais: desde Geógrafos, Engenheiros e arquitetos etc.

2- A Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A (EMPLASA), é vinculada à Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo e suas referências cartográficas são utilizadas em projetos e empreendimentos de órgãos públicos e empresas privadas; a desqualificação desta referência fere não só a estrutura política administrativa, mas todos os trabalhos de engenharia executados no Estado de São Paulo.

Logo a desqualificação deste documento oficial, apesar de corriqueira entre empresários e políticos, revela-se um instrumento de perseguição de vantagens particulares.

Os órgãos públicos em conivência com interesses particulares limitam-se a respeitar regras formais, fazendo "vista grossa" para qualquer outra possibilidade que possa não assegurar a validade de arranjos pré-combinados.

Entre os antigos, sobretudo em Roma, a idéia do direito era inseparável do emprego de certas palavras sacramentais; num caso histórico clássico um determinado cidadão reclamava que seu vizinho tinha cortado suas videiras, e o fato se repetia. Este acabou perdendo o processo, pois no lugar de videira havia mencionado a palavra árvore. Revelando que qualquer quebra da formalidade, tornava inválido o direito à justiça.

A população em geral, mesmo não cobiçando a riqueza, gosta de viver ao lado dos ricos e, por assim dizer, à sombra deles. Embora o clientelismo nos moldes romanos, desapareceu entre nós, diariamente é revitalizado pelas reverências obrigatórias da sociedade atual nos santuários dos Shoppings e Condomínios.

Disto resultam as cidades brasileiras, um aglomerado de não cidades das grandes regiões metropolitanas, lugares submissos à autoridade paterna do fogo domestico representado pelo consumo.

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fogo doméstico- para saber mais consulte http://ebooksbrasil.org/eLibris/cidadeantiga.html

5 comentários:

  1. Parabéns por esta postagem! Infelizmente, esta é
    a dura e cruel realidade em que vivemos! Só tenho que lamentar e dizer que sinto nojo e repugnância dessa corja de miseráveis, burros e inconsequentes, pela tamanha crueldade, descaso, ganância e destruição!
    Maria Lúcia Monteiro Metzler!

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  2. Aponto mais alguns problemas que observei:

    1-Estão tratando a Raposo como uma avenida, aumentando absurdamente os riscos de acidentes. Um exemplo: Esse shopping tem um recuo muito pequeno da avenida/rodovia e de ruas vizinhas.

    2-Por falta de opções de lazer, a população de Cotia (principalmente jovens), está freqüentando o shopping massivamente. Soube que o comentário entre lojistas, e acredito que entre alguns de seus freqüentadores mais abastados é que, se o público com menor poder de consumo e com “aparência” que não condiz com o glamour do local continuar freqüentando o shopping, os “ricos” da Granja Viana não mais freqüentarão o local. A esperança entre eles é que, a partir da cobrança de estacionamento e o aumento dos preços de ingresso dos cinemas, esse público seja afastado. Esquecem que a maioria faz uso de transporte coletivo e poderão usar as ruas próximas para estacionar seus carros populares e feios e velhos.

    3-Nas ruas adjacentes ao shopping, obras de ampliação e reparos dos estragos provocados pela construção do empreendimento foram feitas pela prefeitura, com dinheiro público!!!!!!! Esse dinheiro poderia ter sido usado em benefício daqueles que pretendem excluir de mais um templo da moda, glamour, desperdício, futilidades etc.

    Carolina faz uma comparação entre a atualidade e a época do império romano e grego. Isso tudo faz-me lembrar, também, da era medieval.

    Só falta construírem fossos ao redor dos “castelos” modernos, colocando crocodilos e guardas com armaduras, treinados para afastar o populacho.

    Mário.

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  3. Sob este mesmo "fogo" primitivo a sociedade desenvolvimentista constrói a cidade dos mortos e não dos vivos.
    Muitos de tradição judaica cristã e mesmo de outros credos não percebem que: sob diferentes formalidades inseridas dentro do espetáculo da “modernidade”, mantemos aceso o culto dos Deuses.
    Triste ironia do nosso destino, encenando o olhar para frente a dia andamos para traz.
    Primitivos ou Modernos?
    Um precisa parar de fazer que faz e o outro parar de fingir que acredita, isto é modernidade.

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  4. "Os MAPAS da EMPLASA são utilizados por TODOS os órgãos do ESTADO e TODOS os profissionais":: isso não faz dos mapas da EMPLASA referências confiáveis. O fato da empresa se basear em dados (da EMPLASA) e depois desqualificá-los também é absolutamente normal. Depende de uma série de fatores, por exemplo da escala (normalmente as referências têm uma escala muito menor). Talvez a crítica seja justificável, mas não foi adequadamente fundamentada. O correto seria identificar e apontar os erros, se é que eles existem.

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  5. Caro José Ruiz

    Para sua melhor informação:

    a) a manipulação de mapas e alterações de nascentes e curvas de níveis foram amplamente confirmada em estudos comparativos no Projeto do Empreendimento citado; revelando uma desqualificação técnica do projeto, com confirmações de existência de nascentes no local ( a olho nu).
    c) quando as questões de ESCALA: os Mapas da Emplasa por estarem em 1:100.000 são, por sua natureza mapas indicadores que precisam ser confrontados com levantamentos TOPOGRÁFICOS em escala 1:1. Esta lógica, exigência técnica de qualquer trabalho de engenharia, revela em ampliação e detalhe os indicadores de vales, topos de morro e nascentes. Na realidade o processo técnico é este, e esta é a prática profissional de qualidade, a escala geral e a escala do detalhe. Entretanto é preciso deixar claro que o que na escala 1:100.000 indica são confirmados e amplificados na escala 1:1; onde no mapa da EMPLASA indicava a existência de 1(uma nascente) , na realidade são normalmente encontradas mais de uma. Comprovando que aquele local é uma região de água. A visão do detalhe não altera a topografia do terreno, ela na realidade confirma e amplia a visão. No caso do Empreendimento citado, foram manipuladas curvas de níveis e eliminaram as nascentes, comprovando o desejo de alteração do indicador, tanto que esta no Ministério Público : n° 1.34.001.00005730/2008-19.

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