Fogo DomésticoPara um grego ou romano o fogo doméstico* era um altar de culto aos mortos, mantido no interior de cada lar e deveria ser mantido sempre aceso com um pouco de carvão e cinza.
Na realidade, os mortos recebiam a denominação de deuses e os túmulos privados eram templos destas divindades.
Os cultos aos mortos eram individuais e eram através deles que os vivos podiam receber sua proteção, assim estes continuavam a participar das negociações humanas.
Exigiam-se formalidades rígidas no ritual sagrado, que aos poucos foram incorporados à noção de Lei, onde qualquer alteração nos ritos poderia provocar a ira dos deuses; nos cânticos não eram permitidas qualquer alteração de letra ou o deslocamento de qualquer palavra.
Cada família possuía o seu Deus privado que com o passar do tempo proporcionou prosperidade de determinadas famílias e simultaneamente o desejo destes deuses privados serem compartilhados e cultuados em cultos públicos.
As cidades no seu início foram o resultado da união destes chefes de famílias, onde só estes podiam ser cidadãos.
Na prática era através da prática do fogo privado que o indivíduo e sua família adquiriam o direito de serem cidadãos.
Hoje, tantos milênios depois, ainda continuamos a presenciar o flamejar deste fogo primitivo nas nossas instituições, deixando ainda a maioria dos cidadãos fora do sentimento de justiça e equidade que distingue uma sociedade moderna de uma primitiva. Ainda sofremos com práticas primitivas onde a aplicação das Leis é oriunda dos deuses privados para grupos que participam do mesmo ritual doméstico, deixando a maioria fora do direito de Justiça, principalmente no que se refere aos espaços comuns da cidade, meio ambiente e patrimônio coletivo.
Para estes grupos, apesar de travestidos de modernos, vale as regras dos tempos primitivos, do ritual de culto ao santuário representado pelas grandes INCOPORADORAS.
Primitivos travestidos de Modernos
A empresa ALPHAVILLE URBANISMO S/A, na audiência pública do empreendimento para a Granja Carolina, audiência no dia 05 de fevereiro de 2009 no processo de licenciamento do PROJETO VILA FLORESTAL – RESERVA COTIA – PROCESSO SMA 13.536/07, localizado entre as cidades de Itapevi e Cotia, apresentou diferenças significativas nas curvas de níveis, número de nascentes e posicionamento de cursos
d água.
Ao serem questionados sobre as diferenças do projeto apresentado com o mapa oficial da Emplasa, a empresa executora do Estudo de Impacto Ambiental (CPEA - Consultoria Paulista de Estudos Ambientais) através do Sr. Sérgio Pompéia, bem como o diretor de projetos da Alphaville Urbanismo S/A, Sr. Marcelo Willer; alegaram que os mapas da EMPLASA estavam desatualizados e não poderiam ser usados como referência.
Lembramos que a empresa, Alphaville Urbanismo, faz em seu projeto ampla utilização dos mapas oficiais da EMPLASA, os mesmos mapas que desqualifica, em outros momentos no mesmo projeto. Ficando claro que os utiliza para atender uma formalidade, e os desqualifica quando os mesmo são utilizados na defesa do interesse coletivo.
Cabe aqui ressaltar que:
1- Os MAPAS da EMPLASA são utilizados por TODOS os órgãos do ESTADO e TODOS os profissionais: desde Geógrafos, Engenheiros e arquitetos etc.
2- A Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S/A (EMPLASA), é vinculada à Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado de São Paulo e suas referências cartográficas são utilizadas em projetos e empreendimentos de órgãos públicos e empresas privadas; a desqualificação desta referência fere não só a estrutura política administrativa, mas todos os trabalhos de engenharia executados no Estado de São Paulo.
Logo a desqualificação deste documento oficial, apesar de corriqueira entre empresários e políticos, revela-se um instrumento de perseguição de vantagens particulares.
Os órgãos públicos em conivência com interesses particulares limitam-se a respeitar regras formais, fazendo "vista grossa" para qualquer outra possibilidade que possa não assegurar a validade de arranjos pré-combinados.
Entre os antigos, sobretudo em Roma, a idéia do direito era inseparável do emprego de certas palavras sacramentais; num caso histórico clássico um determinado cidadão reclamava que seu vizinho tinha cortado suas videiras, e o fato se repetia. Este acabou perdendo o processo, pois no lugar de videira havia mencionado a palavra árvore. Revelando que qualquer quebra da formalidade, tornava inválido o direito à justiça.
A população em geral, mesmo não cobiçando a riqueza, gosta de viver ao lado dos ricos e, por assim dizer, à sombra deles. Embora o clientelismo nos moldes romanos, desapareceu entre nós, diariamente é revitalizado pelas reverências obrigatórias da sociedade atual nos santuários dos Shoppings e Condomínios.
Disto resultam as cidades brasileiras, um aglomerado de não cidades das grandes regiões metropolitanas, lugares submissos à autoridade paterna do fogo domestico representado pelo consumo.
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fogo doméstico- para saber mais consulte http://ebooksbrasil.org/eLibris/cidadeantiga.html